sábado, 3 de março de 2012

Gringo brasilificado

Foto: Caroline Bittencourt


Pacato, simples e apaixonado pelo Brasil, Victor Rice – requisitado e sempre
citado entre os melhores produtores de música jamaicana da atualidade – adotou
São Paulo como lar e o Edifício Copan como sua base

Da janela de seu apartamento, no Copan, ele avista praticamente um guia de ruas da cidade e também o seu relógio de “parede”, um daqueles enormes instalados no topo dos prédios. “Todo dia de manhã eu vejo a temperatura nele”, brinca Victor Rice, que ficou impressionado com o edifício em sua primeira visita ao Brasil. “Sempre me encantou. Uma cidade em si, no meio de outra cidade”, completa.


Multiinstrumentista formado em conservatório e apaixonado por Bela Bartók, abre um sorriso enorme toda vez que fala de Don Drummond, trombonista -- morto ainda nos anos 60 -- dos Skatalites, banda fundadora das bases do ska, ritmo que é a base de todo o seu trabalho, que também passeia pelo dub, reggae e rock steady sempre com um tratamento que dá a impressão, para quem ouve, de ter voltado no tempo.


Com uma carreira bastante longa, trabalhou com grandes nomes da música atual, como The Slackers, Toasters, Scofflaws, New Yor Ska Jazz Ensemble, entre muitos outros, e também com ícones da história jamaicana, como Desmond Dekker, Laurel Aitken, Glen Brown e o próprio Skatalites.


Atualmente, entre os inúmeros projetos está a banda brasileira Firebug, que acaba de lançar o segundo disco, On the Move, e também a mixagem de Radiodread, versão em dub de Ok Computer, do Radiohead, e próximo disco da banda americana Easy Star All Star, que se apresenta, em maio, no Via Funchal com o show de seu primeiro trabalho, Dub Side of the Moon. Sim, é isso que você está pensando, o disco clássico do Pink Floyd em versões impecáveis de dub. “O disco é ‘Oz-compatível’”, brinca.


Entre a mixagem de uma música e outra, Victor nos recebeu no estúdio El Rocha, em Pinheiros, São Paulo, para falar um pouco sobre a sua carreira e os planos para o Brasil.


Para começar, você poderia contar como começou sua história com o Brasil.

A minha primeira vez aqui foi em dezembro de 1998, tocando baixo com os Toasters, um grupo nova-iorquino de ska. Tocamos em São Paulo, Curitiba e Santos e passeamos por Paraty. Eu já tinha ido para a Europa várias vezes, e nunca senti a energia que sinto aqui no Brasil. Não é fácil explicar, mas me impressionou de repente. Quero morar no Brasil sempre, mas tenho que ficar indo e vindo por causa de trabalho.


Por que decidiu morar em São Paulo?

Eu pirei por São Paulo. Como nova-iorquino, reconheci a maneira paulistana de viver. Me lembra Nova York quando mudei para lá, em 1985, uma época bem melhor que agora. Depois do reino do prefeito Rudolph Giuliani, NYC tornou-se um lugar limpo, seguro, caríssimo e chato. Hoje em dia está quase impossível para um artista morar na ilha de Manhattan. Você tem de ser rico para ficar lá. Numa palavra: os paulistanos têm tolerância, NYC não tem mais.


Você ainda mora no Copan?

O Copan sempre me encantou. Depois da minha primeira visita voltei várias vezes para Sampa e sempre fiquei olhando para o prédio. Sempre achei bacana, tanta gente morando num lugar só, perto de tudo, no centro... Uma cidade em si, no meio de outra cidade. Quando decidi morar em São Paulo, fui direto para o Copan e achei um apartamento. Lá tem de tudo, café, padaria, lavanderia, restaurante, igreja...


E você freqüenta a igreja?

Não, mas eu fui coroinha durante quatro anos e aprendi muita coisa. Hoje eu vejo o estúdio como uma igreja, é onde eu fico perto do criador. É onde você está aberto, quer criar alguma coisa, não fala palavrões, tem que se comportar mesmo.


Fale um pouco do Firebug?

2006 começou muito bem para o Firebug. O disco novo, On the Move, foi lançado pelo selo Deck Disc, que está investindo no futuro do grupo e no meu futuro como produtor. A banda continua tocando e escrevendo música e, quando estou no Brasil, toco escaleta com eles nos shows. Eu curto muito esse trabalho..


Como foi gravar um disco com uma banda brasileira morando em NYC?

Como foi? Foi preciso! Eu tinha que ficar em NYC por causa de trabalho, mas o projeto estava gravado no estúdio El Rocha, em Pinheiros, e eu levei para NYC para editar e mixar. Aproveitei para gravar alguma coisa com a minha galera de lá, o que seria massa. Integrantes das bandas Slackers, Scofflaws e Dub Is A Weapon participam do disco.


Mudando de projeto, como surgiu a idéia para o Dub Side of the Moon?

Eu fiz parte do projeto, gravei o baixo, mas não faço parte da banda [Easy Star All Stars] porque minha agenda não me permite ficar em turnê. A idéia foi dos produtores do selo Easy Star e era só mencionar para todo mundo imaginar como ficaria bacana. Sou muito fã do original. Teve uma época, por volta de 1987, que eu escutava todo dia. Olhando para trás, parece que foi destino mesmo! Alguns tempos do Dub Side são pouco diferentes do original, mas mesmo assim o disco é "Oz-compatível".


Agora é a vez do Radiohead, certo?

Os produtores me chamaram para tocar no disco novo deles, a “jamaicanização” do disco OK Computer, do Radiohead. Depois decidiram que também iam mixar o disco comigo. Eu falei que gostaria, é claro! Mas preferia mixar no estúdio El Rocha. O disco também tem participações de Toots Hibbert, Meditations, Frankie Paul, Horace Andy, entre outros, cada um em uma faixa.

Vocês tiveram contato com o pessoal do Radiohead?

Falamos com o empresário para pedir autorização e ele falou: “É, eles vão gostar”. Gravamos todas as batidas, harmonias e faltava terminar de colocar as vozes quando recebemos uma ligação do empresário dizendo que a banda não queria mais que o disco fosse feito. Ele se desculpou por ter liberado e disse que tinha ouvido direto deles que não era para autorizar. Nisso, nós pegamos, eu e o produtor, as duas faixas que a gente já tinha, mixamos da maneira mais perfeita possível e mandamos direto para eles escutarem e verem o quão longe a gente já tinha ido. Tipo chorando, né? Por favor, por favor! Aí eles escutaram e acharam muito legal... Ufa! Eles ouviram e já estão gostando.


Como e quando você começou a se interessar por música?

Minha família é grande, tenho cinco irmãos e todo mundo fez aulas particulares, ou de piano ou de violão. Quando criança, ouvi muitas aulas em casa e, aos 4 anos, toquei uma linha no piano. Era a melodia da lição do meu irmão mais velho, aí todo mundo já percebeu que eu tinha um ouvido especial. Minhas aulas de piano não foram boas, principalmente porque o professor não me deixava tocar de ouvido, e eu não tinha paciência para ler... Desencanei. Só voltei a me interessar com 13 anos, quando ouvi Led Zeppelin. Desde então quis tocar baixo e não parei até hoje.


Você estudou música erudita, certo? Onde estudou?

Sim, fiz conservatório por seis anos no Manhattan School of Music e me formei com diploma de mestre. Estudei performance orquestral, contrabaixo e também composição, arranjamento, história... Quando saí voltei a tocar baixo elétrico, minha primeira paixão, com muito mais técnica e sapiência, claro. Também voltei a tocar minha música preferida, a música jamaicana. Eu tinha ouvido reggae pelo meu irmão mais velho, que colocava vários discos para tocar em casa. Conheci Bob Marley, Peter Tosh e Jimmy Cliff quando criança. E acho que é por isso que eu optei pelo baixo.


Você lembra qual foi a primeira música jamaicana que você ouviu?

Lembro de Rebel Music, do Bob Marley, saindo da sala do meu irmão e ele cantando bem alto. Nossa! Que engraçada essa lembrança!


Como foi a experiência de trabalhar com lendas da música jamaicana?

Tocar com Desmond Dekker foi incrível, com Laurel Aitken foi demais, ele me lembrava o meu pai. Trabalhar com os Skatalites no estúdio foi um sonho realizado! Aprendi tanto do jeito deles. Mas gravar com o vocalista/produtor Glenn Brown foi provavelmente o mais importante, pois aprendi como manter criatividade no estúdio sem parar. Depois de trabalhar com ele, tenho mais coragem para fazer o que eu quero no estúdio.


Estúdio ou palco? O que você prefere?

Claro que o estúdio ganha, porque qualquer coisa feita no estúdio é permanente e continua tocando pelo mundo inteiro para sempre. O palco é necessário e bom. Gosto por razões diferentes. Mas ficar em turnê não é muito produtivo, você fica 18 horas viajando para um show de 90 minutos. Eu prefiro ficar num estúdio 16 horas por dia, tratando o som que vai ficar para sempre...


Como você conheceu a música brasileira?

Quando eu estava no conservatório, eu estava acostumado a tocar música popular brasileira com bandas de jazz. E todo mundo queria aprender, porque era a música mais refinada e era atual, quer dizer, do nosso século. Porque em conservatório você está aprendendo música bem antiga.


E o lance de tocar bossa nova em Paraty?

Quando resolvi mudar para cá de vez, achei melhor ir para Paraty primeiro, um lugar que eu conheci com os Toasters. Achei melhor ficar com pessoas que não falam inglês porque queria melhorar o português antes de mudar para cá. Paraty é um lugar de turismo, tem banda em todo lugar, nos bares, e, para todo mundo, faltava o baixo. Então, eu cheguei com o baixo e toquei com todas as bandas antes mesmo de falar direito.


E o que você gosta de música brasileira atual?

Curto funk carioca, acho doido. Mas eu achei legal há anos. Eu estava aqui em São Paulo em 2002 e achava aquela batida muito legal, mas todo mundo daqui falava: “Isso é coisa de carioca”. Agora é uma coisa mundial. Mas eu não me ligo nas letras, me ligo no som.


No que você está trabalhando atualmente?

Eu estou compondo trilhas sonoras para uma empresa de Nova York, mas isso é trabalho. Minha obra é outra coisa. Minha obra hoje é juntar música brasileira com música jamaicana. Eu adoro samba rock, mas existe muita coisa dentro desse espectro, dentro do que é a batida do samba rock. Eu acho que tem espaço para eu colocar a minha batida dentro desse estilo.


É o “samba rock steady”?

Eu não queria divulgar muito a idéia ainda, mas também não dá para guardar. É isso. Eu estou escutando separadamente e quero juntar uma batida que, quando um brasileiro escute, ache que é um samba rock, e, quando um jamaicano escute, pense que é uma música antiga da Jamaica, um rock steady.


Uma música que marcou sua vida?

Confucius, do Don Drummond dos Skatalites. Foi quando eu percebi que a batida americana, que influenciou o ska, era uma influência mundial. Na época eu estava pirando na música folclórica da Europa oriental.


Você tocou no Sesc em janeiro, no festival Sons de Uma Noite de Verão. Como foi?

Para mim, foram duas coisas. A primeira foi tocar com o Firebug com casa cheia, algo muito legal. Mas, além disso, eu acabei de voltar para o Brasil, voltar do trabalho, e depois de três semanas eu estava no palco. Agora que estou no Brasil direto sempre posso fazer aparições ao vivo com eles e, de sexta, vou para minha festa predileta, a Java do Yellow P, para tocar escaleta.


Por fim, tem alguma coisa que eu não perguntei que você gostaria de falar?

Eu sempre gosto de falar a mesma coisa quando termina a entrevista. Hoje em dia todo mundo está baixando músicas de graça na internet e gostaria de dizer que eu apoio. Se você não está vendendo, é válido. Mas, se você consegue, procure baixar arquivos com qualidade alta, descomprimidos, porque aquele é o som que o artista gostaria que você ouvisse.


Então me diz o que você acha de copyright, copyleft, Creative Commons?

Não é que eu seja contra o copyright, mas eu sei também que não é todo mundo que tem grana para comprar um disco. Eu acho que música mesmo é um fenômeno físico. É onda, é acústica. Som é como o ar. Até hoje ar é livre, de graça. Então eu acho que música tem de ser livre. Se você quer pagar alguma coisa para a banda, chame para tocar em algum lugar. É um jeito legal de mostrar o trabalho.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Obrigado, Fenômeno!


Decidi me pronunciar. Normalmente não escrevo muito sobre futebol, embora algumas vezes eu acredite que deveria. Mas, na maior parte do tempo, prefiro ter o futebol, a escrever sobre ele. E tenho. Ele vive em todas as partes da minha vida. Na minha cabeça, que toda quarta, mesmo que seja apenas um jogo do Paulistinha, me vejo pensando em como será. Na minha casa, com camisas e bandeiras, ora bem guardadas, ora jogadas em cima de algum móvel, e até autógrafos coletados na infância ocupam alguma gaveta do meu escritório. No meu dia a dia, em que invariavelmente converso sobre o assunto, como se falasse de algo determinante para minha existência.
Ao chegar ao Pacaembu em um domingo à tarde - cerimônia religiosa que tenho executado desde a infância e que Fielzão nenhum vai substituir - me sinto como chegando na casa de parentes muito queridos. Invariavelmente chego mais cedo, procuro um lugar com sol na Pça. Charles Miller e abro uma cerveja. Sentado, não me preocupo em esperar uma oportunidade para conversar. É só sentar e falar com quem estiver ao lado. O amor não tem barreiras. E, ali, todos amam e falam sobre seu amor.
Por isso, com meus ídolos, construo uma relação que é de amizade profunda, embora eles não me conheçam. Quando Ronaldo chegou ao meu Corinthians - que também pertence a outros 30 milhões, que não se incomodam de dividir a paixão - foi uma situação das mais felizes.
O admirava até mais do que Romário, sem que exista uma explicação exata para isso. Era um cara que, quando eu era adolescente, me fazia acompanhar as notícias do sonolento campeonato holandês, bastante inacessível em tempos que TV a cabo era apenas um luxo. Esperava sempre que na Band, à epoca conhecida como o "canal do esporte", mostrassem alguma jogada do moleque que fez um gol esquisito ainda no Cruzeiro, ao pegar a bola que repousava ao lado das mãos da lenda Rodolfo Rodrigues, que defendia a meta do Bahia. Hoje Rodolfo ainda é uma lenda, mas a maioria dos novos já não o conhece. Isso não acontecerá com Ronaldo, que é um Fenômeno, e será assunto sempre, tema de especiais... Mas, de volta ao campeonato holandês, por mais que eu esperasse algo, era sempre a mesma coisa, o mesmo gol de letra no PSV que passava na TV por aqui.
Mas meus problemas acabaram quando, por R$ 20 milhões de dólares, Ronaldinho foi para o Barcelona. Legal, agora era só ligar a TV e assistir às transmissões do campeonato espanhol, que tinha entrado na grade da Band no lugar do Italiano. E o que acontecia nas manhãs de domingo era pura magia. Ele passava entre dois zagueiros como se fosse o clássico exercício com cones. A marcação é frágil, diziam. Mas apenas ele fazia aquilo. Era uma sequência inacreditável de gols em que ele driblava o goleiro. Era um fenômeno, de fato, embora ainda não atendesse por essa alcunha. Nessa época, logo depois do jogo da manhã, era hora de ir ao parque jogar bola também. E todos tentavam imitar os dribles do dentuço. Não era fácil.
E lá se foi Ronaldo para a Inter de Milão e lá fui eu de volta às transmissões do campeonato italiano. E a rotina de deixar goleiros sentados continuava. E então veio o reconhecimento do que era óbvio. As arrancadas impressionavam a todos e Ronaldinho não virou Ronaldo. Virou Fenômeno, agora como nome de batismo. Se hoje ele "morreu pela primeira vez", ali ele foi batizado pela segunda.
E, claro, a Seleção estava sempre presente. Convulsão e derrota em 1998, contusão, cirurgia e, em 2002, me lembro de estar mais ansioso por ver Ronaldo em campo do que pela Copa em si. E isso é estranho, pois, durante a Copa, assisto até Irã contra EUA. Fico maluco. E vibrei com a Copa de Ronaldo, que também foi de Rivaldo. Mas, por merecimento, é de Ronaldo.
Em 2006, era atacado por alguns por defender o gordinho, que, diferente dos magrinhos, foi o único que evoluiu na competição. Começou parado e terminou correndo, com três gols. Outros, começaram parados, mesmo magros, e terminaram prostrados. E não estou falando da meia do Roberto Carlos.
E lá vai Ronaldo ao Milan. E lá vou eu acompanhar Ronaldo. Alguns diziam que ele não era o mesmo. E ele balançava e marcava gols, menos que no Barcelona, mas nem tão poucos assim. Inclusive um de fora da área, no clássico contra a Inter. Até o joelho estourar, dessa vez o esquerdo.
E ele se arrebenta de novo. E de novo ressurge. Primeiro em situações constrangedoras, como em fotos sem camisa e sem forma física em iates e o tal escândalo com travestis no Rio de Janeiro. Depois treinando no Flamengo. E, por fim, no meu Corinthians. Nesse dia, enquanto todos falavam "isso não vai dar em nada", eu só lembrava de, em 1996, apenas sonhar quando Chico Lang - no então cômico "Mesa Redonda", na época comandado por Roberto Avallone - revelou uma "falsa bomba": o Timão queria contratar o Ronaldinho. Lógico que era delírio de Lang, que, aliás, desde sempre só delira. Mas não é que sonhos se concretizam? De maneiras estranhas, é verdade. Mas se concretizam.
E, como em um roteiro de cinema, Ronaldo estreia contra o Itumbiara de maneira discreta. Não seria apropriado marcar o primeiro gol sem a Fiel. Tinha que ser apenas o prólogo de um livro envolvente. Melhor seria marcar com a torcida do lado. E se fosse contra o Palmeiras? E se fosse no último minuto? E se fosse de cabeça, algo raro para ele? E se fosse para impedir a derrota para o rival? E se fosse para comemorar escalando o alambrado e indo para cima da torcida, em vez de apenas levantar o dedo e correr, como sempre fazia? Seria pedir demais para um mortal. Precisaria de um roteirista e atores bem ensaiados. Ou precisaria apenas que o pedido fosse feito para alguém destinado a momentos inacreditáveis. E foi assim que, em 2009, no dia 8 de março (por acaso, meu aniversário), Fenômeno correu para a Fiel e derrubou o alambrado na comemoração de seu gol de cabeça, nos acréscimos do clássico contra o Palmeiras. Antes, tinha mandado um chute da intermediária no travessão que, se entrasse, estragaria o roteiro. E, por isso, alguém mais forte não deixou entrar. Obrigado, Deus.
Nesse dia tive certeza. Ronaldo não passaria em branco no Corinthians. E, como já agradeci das arquibancadas, agradeço também aqui: obrigado Fenômeno. Você ter usado a camisa do Corinthians é um orgulho para mim e para outros milhões, que gostariam de ver você subir o túnel do Pacaembu por muitos anos seguidos. Infelizmente não dá, mas está na memória. Quem viu, viu. Eu vi e como gritei. Obrigado!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Podcast dos bão!



Janela Amarela é um blog de Portugal, que publica podcasts com uma seleção de músicas das mais interessantes. Ah, e o subtítulo do blog, "Therapy Radio", faz muito sentido quando você dá o play. Sons finos! Vale conferir.

Clique AQUI e confira também os podcasts publicados anteriormente!

Janelaamarela-2011-01-03 by janelaamarela

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Só doido!

Entrevista - Gilbert Shelton, pai dos Freak Brothers

Seguindo na levada de desenterrar entrevistas antigas, segue uma com Gilbert Shelton, criador dos "Fabulous Furry Freak Brothers", ícone das histórias em quadrinhos underground. O doidão passou pelo Brasil em 2010, quando participou da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) com o também maluco e genial Robert Crumb.
Shelton me deu a entrevista em junho, quando concordou em fornecer semanalmente uma tirinha do "Fat Freddy's Cat" para o jornal - já finado - "MTV na Rua". O jornal durou pouco, mas conversar com Freak Father e ter a honra de publicar seu trabalho durante seis meses vale para a vida inteira.
Na primeira foto, Shelton aparece discretamente na porta do cenário de "Grass Roots", longa em stop motion dos Freak Brothers, que ainda não tem data de lançamento. E, nas outras imagens, meu momento fã na Flip.

Como você começou com os quadrinhos?
Eu fiz algumas tirinhas para diversas publicações colegiais. Depois eu fui editor chefe de uma revista mensal feita por estudantes da Universidade do Texas, a "Texas Ranger". Foi lá que eu publiquei a primeira vez a paródia de super heróis, "Wonder Wart Hog". Eu estava supostamente estudando história, mas a revista de humor foi a minha verdadeira escola.

Como surgiu a ideia de adaptar os "Freak Brothers" para o cinema?
Devem ter aparecido uns sete ou oito projetos de filme, tanto em animação como em live action [com atores de verdade], mas nenhum deles saiu do papel. Já o projeto atual está sendo feito pelo estúdio inglês BolexBrothers. Bristol, onde eles ficam, é conhecida como um centro tecnologia retrô de animações em stop motion. Isso se deve ao Aardman Studios, que produziu filmes como "Wallace e Grommit" e "A Fuga das Galinhas". O filme dos "Freak Brothers" vai ser dirigido por Dave Borthwick, com roteiro de Paul B. Davies. Eu trabalhei com Paul na adaptação de "Grass Roots". A história foi um pouco modificada.

A política sempre foi um pano de fundo das aventuras dos "Freak Brothers". Esse tipo de pensamento ainda é relevante atualmente?
Na nova história, os Freak Brothers são chamados para salvar o mundo quando o governo decide entrar no negócio da maconha, com plantas modificadas geneticamente.

Você ainda acompanha a política?
Eu leio jornais e assisto televisão, mesmo sabendo que eles não dizem a verdade.

Você tem muitas afinidade com os personagens de "Freak Brothers"?
Eu tenho setenta anos. Se eu tivesse tentado viver como os Freak Brothers eu provavelmente estaria morto. Talvez eu tenha mais afinidades com o Fat Freddy’s Cat.

Você é uma das referências mais importantes da cena de quadrinhos underground? Você acompanha também linhas de histórias comerciais, como super heróis?
Eu não sou fã de herois, ficção científica ou espadas e feitiçaria. Eu lia Superman, Batman e Capitão Marvel quando eu era criança, mas eu nunca articulei nada para trabalhar em uma história de herói da Marvel. Eu sempre preferi obras de humor. Eu não tenho contato com a cena de quadrinhos dos Estados Unidos, mas eu leio quadrinhos franceses para praticar o meu francês. Acompanho principalmente revistas mensais, como "Psikopat", "Fluide Glacial", e "l'Echo des Savannes".

Você continua trabalhando em "Not Quiet Dead" com Denis "Pic" Levievre? Fale um pouco sobre o projeto.
Sim. "Not Quite Dead" é uma banda de rock que toca junto há muitos anos sem nunca alcançar o sucesso. Denis e eu escrevemos e desenhamos juntos desde 1992. Nosso sexto livro de "Not Quite Dead" foi escrito em parceria com o escritor francês Fabrice Laperche, conhecido como G.V.I. Nesta história, a banda viaja para o país mais pobre do mundo para levar o rock’n’roll para pessoas leigas.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O doido!

RIP Captain Beefheart









Eu queria...

...ter visto esse show, com essa formação...



...mas fiquei feliz com essa...


...e não tem nenhuma razão para esse post. Apenas nostalgia. Mas aproveito para dizer que tem mais Skatalites no começo de 2011. Aviso quando souber dos detalhes!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Em dia de Femi Kuti, entrevista com Tony Allen

Já que o Femi Kuti está por aí, para dois shows no Sesc Santo André, resolvi postar a entrevista com outra lenda do afrobeat, gênero com o qual o pai de Femi, Fela Kuti, provocou uma transformação - embora ainda longe de ser suficiente para a África, mais precisamente para a Nigéria -, mas ainda sim uma transformação musical, social e política.
Com a palavra, o baterista Tony Allen, que estava ao lado de Fela na criação do afrobeat. Há três anos, fui convidado para acompanhar uma semana do projeto Red Bull Music Academy - realizado naquela edição em Toronto. Na ocasião, me encontrei com o jovem de hoje 70 anos, na época com apenas 67. E segue abaixo o que Tony Allen me disse.


Como o afrobeat nasceu?

Em meu país, Nigéria, se você queria ser música você tinha de tocar todo tipo de música. De foxtrot ao jazz, ao rythm and blues. Se você é um músico profissional você tem de tocar de tudo. E foi de maneira natural. Eu, antes mesmo de tocar com Fela, estava procurando uma forma de tocar. Um estilo próprio para tocar bateria. E, quando o conheci, ele procurava um baterista e nosso trabalho tinha uma afinidade. Ele me perguntou: “Onde você aprendeu a tocar bateria? Nos Estados Unidos, na Inglaterra?” Não, eu aprendi aqui mesmo na Nigéria.


E você estudou bateria sozinho?

Sim, eu aprendi a tocar praticando e procurando um estilo próprio. Eu queria criar um estilo próprio. Eu tocava bateria em outros grupos antes do Fela e não me satisfazia. Eu queria evoluir para algo próprio.


O que é mais importante em ser músico?

Bem. Eu acho que é ser você mesmo. Acreditar em você, procurar o que você quer fazer e ser você mesmo. Eu acho que o mais importante é ser você mesmo e acreditar no que você faz. E a música, é claro.
Eu criei meu estilo procurando ser eu mesmo. Para criar um estilo próprio você tem de ser você mesmo e tocar muito. Praticar.

Então você estava misturando estilos conscientemente quando começou?

Sim, eu estava. Eu estava procurando diferentes caminhos na bateria. Eu queria evoluir. Era consciente. Não me satisfazia em fazer o que os bateristas que eu admirava faziam.


E o que mais influenciou os rumos da sua música?

É o solo que você pisa que influencia sua maneira de ser, seu estilo de vida. Não dá para nascer na Europa e ser um homem da selva. O solo que você pisa altera a sua personalidade.


O que tem de mais interessante acontecendo hoje em dia no mundo?

Todas as coisas na música são interessantes. Têm esses programas de produção, que são bem legais.


Qual a diferença para você entre tocar com o Fela e com uma banda de rock britânica, como The Good The Bad and The Queen, com o Damon Albarn (Blur) e Paul Simonon (Clash)?

Eu me sinto feliz de ser apto a tocar com eles. Em fazer algo diferente e tocar algo diferente. Eu me sinto feliz de poder fazer isso, de ter essa oportunidade.


E como é tocar com uma pessoa como o Damon Albarn?

É interessante. Para mim, ele é um gênio. O que ele faz é diferente do que se faz. Ele é um músico genial. A forma que ele compõe é diferente de outros, então ele é um gênio. Ele tem a capacidade de melhorar uma produção de um dia para o outro. Ele faz algo hoje e quando chega no outro dia muda tudo. E fica bom.


É muito diferente do que era trabalhar com o Fela, por exemplo?

Fela era um grande gênio, sem dúvida. Mas era algo mais também. Era um militante na Nigéria. Era um país muito perigoso e ele queria mudar algo. Era uma militância política importante e ele era um gênio musicalmente.


O que você conhece de música brasileira?

Eu conheço desde criança. Em meu país, quando eu era criança, sempre ouvia música brasileira na rua, até no Natal. Quando eu estive em Salvador, vi um grupo de percussão tocar no meio da rua. Eu vi no Pelourinho, todos vestidos diferentes e tocando bateria na rua. Era o Olodum. Aquilo é muito bom. Aquilo é inacreditável. É perfeito. A percussão brasileira é fantástica, é o que eu mais gosto. Eu adoro o som do tamborim.


Além do Olodum, tem algo que você goste bastante na música brasileira?

Eu gosto muito da música do Gilberto Gil. Uma vez encontrei com Gil, antes de ele virar ministro, e perguntei quando iríamos entrar em um estúdio juntos. Mas não saiu disso; agora é difícil ele ter tempo. Eu gosto muito do trabalho dele. (a entrevista é velha, eu avisei!)


Quantas vezes vocês esteve no Brasil?

Eu tive a oportunidade de estar três vezes no Brasil, sempre tocando. Eu adoro ir ao seu país. Tenho uma grande admiração pela música brasileira e pela parte percussiva em especial. Gostaria inclusive de mandar um grande abraço para todos os percussionistas brasileiros.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Femi Kuti - O Filho do Fela

Hoje e domingo, no Sesc Santo André, você tem duas oportunidades de chacoalhar o esqueleto e a consciência. Femi Kuti será o responsável por isso, nos dois shows que fará no festival 'Batuque - Conexão África-Brasil'.
Tocando ou cantando, o filho de Fela Kuti (1938-1997) - ícone da música e da política nigeriana - traz nitidamente ecos da trajetória de seu pai, que, independente da relevância política, foi musicalmente genial. A mistura de ritmos africanos - ritmo, aliás é uma palavra perfeita para falar da África - com jazz é deliciosa e agresiva.
Agressiva também é a postura de ambos, pai e filho, quando o assunto é a atitude das lideranças políticas e da situação de caos social da Nigéria, assim como de outros países africanos. Usei o verbo no presente ao falar dos dois, pois as ideias de Fela não envelhecem e não morrem, assim como ele, que está desde sempre na categoria de artistas imortais e atemporais.
E, por incrível que pareça, Femi ainda é capaz de adicionar mais suíngue no legado musical do pai. O afrobeat fica ainda mais dançante, como se ele estivesse dando sequência à obra de Fela. Por isso disse lá em cima que sábado e domingo serão dias de chacoalhar o esqueleto. E, se prestar bastante atenção no que ele diz, também será dia de chacoalhar a consciência. Ele pode estar falando da Nigéria, mas tenho certeza que se aplicaria no dia a dia de todo brasileiro que não seja cego, surdo ou louco. Pois, sem nenhuma dessas dificuldades, vai perceber facilmente problemas muito semelhantes por aqui.
Não perca. Além de Fela, outros artistas palpitantes passam por lá. No sábado, destaco os excelentes Elo da Corrente e Kiko Dinucci. No domingo, Maquinado e M. Takara. Bora?

Preço, horários e endereço aqui: http://bit.ly/FemiKuti





sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mais Clash: Joe Strummer, especificamente

Além do possível filme citado no post abaixo, vale lembrar que uma outra produção deve contar a vida de Joe Strummer. O título do longa deve ser 'Joe Public'. O roteirista será Paul Viragh ('Sex & Drugs & Rock & Roll'). Mas ainda não se sabe muito mais além disso.
Aproveito para postar um vídeo de Joe Strummer com os Mescaleros. Sempre triste por saber que nunca terei a chance de assistir a um show do bruxo.