terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Só doido!

Entrevista - Gilbert Shelton, pai dos Freak Brothers

Seguindo na levada de desenterrar entrevistas antigas, segue uma com Gilbert Shelton, criador dos "Fabulous Furry Freak Brothers", ícone das histórias em quadrinhos underground. O doidão passou pelo Brasil em 2010, quando participou da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) com o também maluco e genial Robert Crumb.
Shelton me deu a entrevista em junho, quando concordou em fornecer semanalmente uma tirinha do "Fat Freddy's Cat" para o jornal - já finado - "MTV na Rua". O jornal durou pouco, mas conversar com Freak Father e ter a honra de publicar seu trabalho durante seis meses vale para a vida inteira.
Na primeira foto, Shelton aparece discretamente na porta do cenário de "Grass Roots", longa em stop motion dos Freak Brothers, que ainda não tem data de lançamento. E, nas outras imagens, meu momento fã na Flip.

Como você começou com os quadrinhos?
Eu fiz algumas tirinhas para diversas publicações colegiais. Depois eu fui editor chefe de uma revista mensal feita por estudantes da Universidade do Texas, a "Texas Ranger". Foi lá que eu publiquei a primeira vez a paródia de super heróis, "Wonder Wart Hog". Eu estava supostamente estudando história, mas a revista de humor foi a minha verdadeira escola.

Como surgiu a ideia de adaptar os "Freak Brothers" para o cinema?
Devem ter aparecido uns sete ou oito projetos de filme, tanto em animação como em live action [com atores de verdade], mas nenhum deles saiu do papel. Já o projeto atual está sendo feito pelo estúdio inglês BolexBrothers. Bristol, onde eles ficam, é conhecida como um centro tecnologia retrô de animações em stop motion. Isso se deve ao Aardman Studios, que produziu filmes como "Wallace e Grommit" e "A Fuga das Galinhas". O filme dos "Freak Brothers" vai ser dirigido por Dave Borthwick, com roteiro de Paul B. Davies. Eu trabalhei com Paul na adaptação de "Grass Roots". A história foi um pouco modificada.

A política sempre foi um pano de fundo das aventuras dos "Freak Brothers". Esse tipo de pensamento ainda é relevante atualmente?
Na nova história, os Freak Brothers são chamados para salvar o mundo quando o governo decide entrar no negócio da maconha, com plantas modificadas geneticamente.

Você ainda acompanha a política?
Eu leio jornais e assisto televisão, mesmo sabendo que eles não dizem a verdade.

Você tem muitas afinidade com os personagens de "Freak Brothers"?
Eu tenho setenta anos. Se eu tivesse tentado viver como os Freak Brothers eu provavelmente estaria morto. Talvez eu tenha mais afinidades com o Fat Freddy’s Cat.

Você é uma das referências mais importantes da cena de quadrinhos underground? Você acompanha também linhas de histórias comerciais, como super heróis?
Eu não sou fã de herois, ficção científica ou espadas e feitiçaria. Eu lia Superman, Batman e Capitão Marvel quando eu era criança, mas eu nunca articulei nada para trabalhar em uma história de herói da Marvel. Eu sempre preferi obras de humor. Eu não tenho contato com a cena de quadrinhos dos Estados Unidos, mas eu leio quadrinhos franceses para praticar o meu francês. Acompanho principalmente revistas mensais, como "Psikopat", "Fluide Glacial", e "l'Echo des Savannes".

Você continua trabalhando em "Not Quiet Dead" com Denis "Pic" Levievre? Fale um pouco sobre o projeto.
Sim. "Not Quite Dead" é uma banda de rock que toca junto há muitos anos sem nunca alcançar o sucesso. Denis e eu escrevemos e desenhamos juntos desde 1992. Nosso sexto livro de "Not Quite Dead" foi escrito em parceria com o escritor francês Fabrice Laperche, conhecido como G.V.I. Nesta história, a banda viaja para o país mais pobre do mundo para levar o rock’n’roll para pessoas leigas.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O doido!

RIP Captain Beefheart









Eu queria...

...ter visto esse show, com essa formação...



...mas fiquei feliz com essa...


...e não tem nenhuma razão para esse post. Apenas nostalgia. Mas aproveito para dizer que tem mais Skatalites no começo de 2011. Aviso quando souber dos detalhes!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Em dia de Femi Kuti, entrevista com Tony Allen

Já que o Femi Kuti está por aí, para dois shows no Sesc Santo André, resolvi postar a entrevista com outra lenda do afrobeat, gênero com o qual o pai de Femi, Fela Kuti, provocou uma transformação - embora ainda longe de ser suficiente para a África, mais precisamente para a Nigéria -, mas ainda sim uma transformação musical, social e política.
Com a palavra, o baterista Tony Allen, que estava ao lado de Fela na criação do afrobeat. Há três anos, fui convidado para acompanhar uma semana do projeto Red Bull Music Academy - realizado naquela edição em Toronto. Na ocasião, me encontrei com o jovem de hoje 70 anos, na época com apenas 67. E segue abaixo o que Tony Allen me disse.


Como o afrobeat nasceu?

Em meu país, Nigéria, se você queria ser música você tinha de tocar todo tipo de música. De foxtrot ao jazz, ao rythm and blues. Se você é um músico profissional você tem de tocar de tudo. E foi de maneira natural. Eu, antes mesmo de tocar com Fela, estava procurando uma forma de tocar. Um estilo próprio para tocar bateria. E, quando o conheci, ele procurava um baterista e nosso trabalho tinha uma afinidade. Ele me perguntou: “Onde você aprendeu a tocar bateria? Nos Estados Unidos, na Inglaterra?” Não, eu aprendi aqui mesmo na Nigéria.


E você estudou bateria sozinho?

Sim, eu aprendi a tocar praticando e procurando um estilo próprio. Eu queria criar um estilo próprio. Eu tocava bateria em outros grupos antes do Fela e não me satisfazia. Eu queria evoluir para algo próprio.


O que é mais importante em ser músico?

Bem. Eu acho que é ser você mesmo. Acreditar em você, procurar o que você quer fazer e ser você mesmo. Eu acho que o mais importante é ser você mesmo e acreditar no que você faz. E a música, é claro.
Eu criei meu estilo procurando ser eu mesmo. Para criar um estilo próprio você tem de ser você mesmo e tocar muito. Praticar.

Então você estava misturando estilos conscientemente quando começou?

Sim, eu estava. Eu estava procurando diferentes caminhos na bateria. Eu queria evoluir. Era consciente. Não me satisfazia em fazer o que os bateristas que eu admirava faziam.


E o que mais influenciou os rumos da sua música?

É o solo que você pisa que influencia sua maneira de ser, seu estilo de vida. Não dá para nascer na Europa e ser um homem da selva. O solo que você pisa altera a sua personalidade.


O que tem de mais interessante acontecendo hoje em dia no mundo?

Todas as coisas na música são interessantes. Têm esses programas de produção, que são bem legais.


Qual a diferença para você entre tocar com o Fela e com uma banda de rock britânica, como The Good The Bad and The Queen, com o Damon Albarn (Blur) e Paul Simonon (Clash)?

Eu me sinto feliz de ser apto a tocar com eles. Em fazer algo diferente e tocar algo diferente. Eu me sinto feliz de poder fazer isso, de ter essa oportunidade.


E como é tocar com uma pessoa como o Damon Albarn?

É interessante. Para mim, ele é um gênio. O que ele faz é diferente do que se faz. Ele é um músico genial. A forma que ele compõe é diferente de outros, então ele é um gênio. Ele tem a capacidade de melhorar uma produção de um dia para o outro. Ele faz algo hoje e quando chega no outro dia muda tudo. E fica bom.


É muito diferente do que era trabalhar com o Fela, por exemplo?

Fela era um grande gênio, sem dúvida. Mas era algo mais também. Era um militante na Nigéria. Era um país muito perigoso e ele queria mudar algo. Era uma militância política importante e ele era um gênio musicalmente.


O que você conhece de música brasileira?

Eu conheço desde criança. Em meu país, quando eu era criança, sempre ouvia música brasileira na rua, até no Natal. Quando eu estive em Salvador, vi um grupo de percussão tocar no meio da rua. Eu vi no Pelourinho, todos vestidos diferentes e tocando bateria na rua. Era o Olodum. Aquilo é muito bom. Aquilo é inacreditável. É perfeito. A percussão brasileira é fantástica, é o que eu mais gosto. Eu adoro o som do tamborim.


Além do Olodum, tem algo que você goste bastante na música brasileira?

Eu gosto muito da música do Gilberto Gil. Uma vez encontrei com Gil, antes de ele virar ministro, e perguntei quando iríamos entrar em um estúdio juntos. Mas não saiu disso; agora é difícil ele ter tempo. Eu gosto muito do trabalho dele. (a entrevista é velha, eu avisei!)


Quantas vezes vocês esteve no Brasil?

Eu tive a oportunidade de estar três vezes no Brasil, sempre tocando. Eu adoro ir ao seu país. Tenho uma grande admiração pela música brasileira e pela parte percussiva em especial. Gostaria inclusive de mandar um grande abraço para todos os percussionistas brasileiros.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Femi Kuti - O Filho do Fela

Hoje e domingo, no Sesc Santo André, você tem duas oportunidades de chacoalhar o esqueleto e a consciência. Femi Kuti será o responsável por isso, nos dois shows que fará no festival 'Batuque - Conexão África-Brasil'.
Tocando ou cantando, o filho de Fela Kuti (1938-1997) - ícone da música e da política nigeriana - traz nitidamente ecos da trajetória de seu pai, que, independente da relevância política, foi musicalmente genial. A mistura de ritmos africanos - ritmo, aliás é uma palavra perfeita para falar da África - com jazz é deliciosa e agresiva.
Agressiva também é a postura de ambos, pai e filho, quando o assunto é a atitude das lideranças políticas e da situação de caos social da Nigéria, assim como de outros países africanos. Usei o verbo no presente ao falar dos dois, pois as ideias de Fela não envelhecem e não morrem, assim como ele, que está desde sempre na categoria de artistas imortais e atemporais.
E, por incrível que pareça, Femi ainda é capaz de adicionar mais suíngue no legado musical do pai. O afrobeat fica ainda mais dançante, como se ele estivesse dando sequência à obra de Fela. Por isso disse lá em cima que sábado e domingo serão dias de chacoalhar o esqueleto. E, se prestar bastante atenção no que ele diz, também será dia de chacoalhar a consciência. Ele pode estar falando da Nigéria, mas tenho certeza que se aplicaria no dia a dia de todo brasileiro que não seja cego, surdo ou louco. Pois, sem nenhuma dessas dificuldades, vai perceber facilmente problemas muito semelhantes por aqui.
Não perca. Além de Fela, outros artistas palpitantes passam por lá. No sábado, destaco os excelentes Elo da Corrente e Kiko Dinucci. No domingo, Maquinado e M. Takara. Bora?

Preço, horários e endereço aqui: http://bit.ly/FemiKuti





sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Mais Clash: Joe Strummer, especificamente

Além do possível filme citado no post abaixo, vale lembrar que uma outra produção deve contar a vida de Joe Strummer. O título do longa deve ser 'Joe Public'. O roteirista será Paul Viragh ('Sex & Drugs & Rock & Roll'). Mas ainda não se sabe muito mais além disso.
Aproveito para postar um vídeo de Joe Strummer com os Mescaleros. Sempre triste por saber que nunca terei a chance de assistir a um show do bruxo.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

E vem por aí um filme sobre o The Clash...

Invariavelmente, tudo que aparece sobre The Clash me interessa. E, claro, não seria diferente quando surge a notícia de um filme sobre a banda, que seria produzido em parceria com Mick Jones e Paul Simonon.
O filme, que deve chamar "London Calling", será voltado exatamente para o disco de mesmo nome.
No que isso vai dar, nem imagino. Se o resultado será bom, imagino menos ainda. Mas fiquei curioso.
Agora, se quer assistir algo realmente bom relacionado à banda, tenho uma sugestão sem erro: "Joe Strummer: The Future Is Unwritten", de Julien Temple. O documentário traz depoimentos de muita gente legal - de Brigitte Bardot a John Cusack, passando por Bono, Mick Jagger e, obviamente, Topper Headon, Paul Simonon e Mick Jones, companheiros de banda de Joe (1952-2002). Esse é, com certeza, indispensável.